Exercício para vagina? Saiba por que Maitê Proença faz bem em indicar

Maitê Proença causou curiosidade dos seus seguidores recentemente ao responder uma pergunta inusitada em seu perfil do Instagram. Questionada sobre como faz para manter a sua vagina jovem, a atriz compartilhou: 

“A minha vagina? Eu me relaciono com ela. Eu sei que ela está ali, eu olho para ela e faço exercícios para ela. Exercícios de contração diariamente, inclusive quando estou malhando. Na hora de expirar, eu contraio”. 

Esses exercícios realizados pela atriz nada mais são do que o princípio da fisioterapia pélvica, uma forma de tratamento ou prevenção contra disfunções do assoalho pélvico, como a incontinência urinária. Neste texto, vamos explicar melhor o que é isso e qual a importância de cuidar e de "se relacionar" com a sua vagina, como recomenda a atriz. 

Conheça o assoalho pélvico 

Como o próprio nome já diz, o assoalho é o “piso” da pelve. Como músculo, sua principal função é sustentar os órgãos pélvicos (bexiga, intestino, útero e ovários) e conter todos eles dentro dessa região. Ele também tem o papel de auxiliar na contenção da urina, dos gases e das fezes, além de participar ativamente da função sexual. 

Vale lembrar que os homens também apresentam o assoalho pélvico, mas a mulher acaba mais sujeita a ter disfunções nessa parte do corpo pela própria anatomia, já que o canal vaginal deixa esse "piso" mais vulnerável. 

As disfunções aparecem quando o assoalho pélvico fica enfraquecido, encurtado ou, até mesmo, muito tenso. Ao longo da vida, realizamos diversas atividades que exigem muito desse músculo, como caminhar, correr, praticar esportes com muito impacto, subir e descer escadas ou trabalhar muitas horas de pé. 

Todas essas situações aumentam o esforço que o assoalho precisa fazer para conter os órgãos, assim como a urina e as fezes. Caso não exista uma preparação, ele vai ficando enfraquecido com tamanha pressão. 

Sem contar as atividades do dia a dia - sentar, levantar, comer, tossir, espirrar - gestação, fatores hormonais e obesidade, que também forçam o assoalho a aguentar mais peso. 

Quem pode ajudar? 

Como foi dito anteriormente, o enfraquecimento, encurtamento ou tensão no assoalho pélvico podem provocar disfunções. Elas podem começar aos poucos e aumentam com o passar dos anos, como é o caso da incontinência urinária. Para resolver essas questões, o ideal é recorrer à chamada fisioterapia pélvica, que tem como principal objetivo prevenir e tratar essas alterações. 

“Não existe perda involuntária de xixi que seja aceitável. Embora seja algo muito comum uma mulher se queixar de escape de urina, estamos falando de um problema. Então, elas são as primeiras que devem procurar ajuda da fisioterapia pélvica”, explica Ana Paula Valadares, fisioterapeuta pélvica com doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Outra queixa muito comum que pode estar diretamente ligada à disfunção no assoalho é a dor na relação sexual. De acordo com Ana Paula, existe um mito de que sentir dor no início da vida sexual ou em algumas relações é normal, porém não é. “Há vários motivos que podem provocar esse incômodo como um assoalho pélvico enfraquecido ou muito tenso. Por isso, é essencial avaliar essa disfunção”. 

Quem pode fazer? 

Visto que todos estão vulneráveis às disfunções do assoalho pélvico, a fisioterapia pélvica é recomendada para toda e qualquer mulher, independentemente da idade. Existem aquelas que procuram ajuda quando já estão na menopausa e outras mais jovens, que praticam algum esporte de alto impacto e buscam esse recurso como forma de se prevenir. 

Caso exista algum sintoma de disfunção, é altamente recomendável procurar um fisioterapeuta pélvico o mais rápido possível. Porém, mesmo se não existir nenhum sinal, é importante fazer a prevenção porque, de qualquer jeito, o assoalho sofre com pressões em várias situações ao longo da vida e precisa estar treinado para continuar desempenhando sua função da melhor forma.

Exercícios 

A fisioterapia pélvica dispõe de diversos recursos para realizar os exercícios e ajudar no fortalecimento do assoalho como bola de pilates, biofeedback, aparelhos, bolinhas e cones vaginais.

Em geral, os exercícios para trabalhar essa musculatura são bem simples. Uma das atividades mais comuns é o movimento de contração, ou seja, fazer uma força como se precisasse segurar o xixi. 

Segundo Ana Paula, o ideal é sempre fazer os exercícios com orientação de um fisioterapeuta pélvico. “Nem todas as mulheres têm a percepção de estar contraindo o assoalho pélvico. Então, para ter certeza, é necessária a avaliação e acompanhamento de um profissional. Músculo não é só força, é alongamento também, precisa ter controle e coordenação”. 

Não há nenhuma contraindicação para fazer esse tipo de exercício, mas, mulheres que apresentarem perda de urina, urgência em ir ao banheiro, dor na relação sexual ou alguma dor pélvica não devem realizar o exercício e precisam procurar ajuda para avaliar o assoalho. 

Grávidas

Estar grávida também oferece uma pressão enorme sobre o assoalho pélvico, afinal o útero aumenta e pressiona a bexiga da mulher. Nesses casos, é ainda mais importante cuidar da vagina e procurar ajuda. 

“A fisioterapia pélvica é indicada para o início do segundo trimestre da gestação, de acordo com a liberação do obstetra", comenta Ana Paula. Ela pode ser feita tanto pela gestante que terá parto cesárea, como por aquela que terá parto vaginal.

Durante o parto, a passagem do bebê pelo canal vaginal pode provocar uma laceração nos músculos do assoalho pélvico. Então, o trabalho do fisioterapeuta é preparar esses órgãos, assim como o corpo da mulher, para receber essa criança.

Segundo a fisioterapeuta, mesmo mulheres que farão cesárea devem ter esse cuidado com o assoalho, visto que, durante o período expulsivo do trabalho de parto, a cabeça do bebê empurra esse músculo e pode causar uma lesão. Sem contar o peso do feto, a placenta e os órgãos, que sobrecarregam o assoalho durante toda a gestação. 

Além disso, cuidar dessa parte do corpo também pode ajudar nas disfunções pós-parto, como a própria incontinência urinária, possibilitando que a mulher passe de forma mais tranquila pela gestação, trabalho de parto e pós-parto.  

E os orgasmos?

Muitas mulheres “anorgásmicas”, ou seja, que nunca tiveram um orgasmo na vida, procuram a ajuda da fisioterapia pélvica para solucionar esse problema. 

Durante o orgasmo, acontecem contrações rítmicas do assoalho pélvico. Sendo assim, quando a mulher é estimulada de forma adequada e tem o orgasmo, ela sofre essas contrações involuntárias e a musculatura relaxa e contrai muito rapidamente. 

Ana Paula explica que grande parte das mulheres que têm essa queixa dificilmente já se masturbaram ou têm intimidade com a própria vulva: “Com o início do tratamento, a mulher começa a cuidar desses músculos e a adquirir consciência corporal. Então, acredito que além de fortalecer a musculatura, é um trabalho de autoconhecimento e ela acaba descobrindo o que lhe dá prazer”. 

Geralmente, o tratamento para disfunção sexual dura de quatro a oito meses, e apresenta resultados bastante satisfatórios. Além disso, muitas vezes, mulheres buscam ajuda nesse sentido não pela falta de orgasmo, mas porque querem sentir mais prazer. “Fortalecendo essa musculatura é possível melhorar a qualidade e intensidade dos orgasmos”, comenta. 

Ainda existem tabus

De acordo com a fisioterapeuta, o grande problema em tratar as disfunções orgásmicas ou dores na relação sexual está na dificuldade em falar sobre o assunto. Tudo o que envolve vulva, ou está relacionado a sexo, ainda é rodeado por tabus. 

“Muitas mulheres acabam não buscando ajuda porque elas não conversam entre si e não sabem que o problema delas pode ser da outra também. Assim como a falta de consciência corporal é um desafio – existem mulheres que nunca pegaram o espelhinho e olharam sua própria vulva – os tabus sexuais ainda são enormes obstáculos”, pontua. 

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