Devemos sempre ter cuidado com as características e informações nutrológicas de um alimento
Cármen Guaresemin Publicado em 10/08/2023, às 09h00
Quantas vezes você não ouviu falar que certo alimento era saudável para, tempos depois, ouvir que não era bem assim? O ovo é um deles, por exemplo. Tratado como vilão por anos, por supostamente ter um alto teor de colesterol, hoje em dia está provado que faz bem por ser rico em vitaminas. No entanto, há, sim, alimentos que parecem saudáveis, mas que podem fazer mal, e isso não vai se alterar.
E não tem erro, junto com as dietas da moda não é incomum surgir um alimento que logo é tratado como o herói da vez. Em seguida, surgem as recomendações para as trocas: sai o açúcar branco, entra o açúcar de coco; sai o pão, entra a tapioca; sai o azeite, entra o óleo de coco. “Simultaneamente, muitas pessoas começam a acreditar que essa substituição é mais saudável, portanto, é possível consumir esse alimento em maior quantidade – o que na maioria das vezes não é verdade”, alerta a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
Ela ensina que devemos sempre ter cuidado com as características e informações nutrológicas de um alimento para entender se realmente a troca se faz necessária dentro de um contexto alimentar. Isto porque, Marcella lembra que, em dietas, trocar seis por meia dúzia, além de desnecessário, pode ser perigoso quando o paciente compra, erroneamente, a ideia de que aquele alimento é menos calórico ou mais saudável.
Abaixo, Marcella listou algumas ‘ciladas’ nas quais costumamos cair:
Barras de cereais – barras de cereais, sementes e proteínas têm grandes variações em suas composições. Com uma vasta possibilidade de ingredientes, a única maneira de consumir sem cair em armadilhas é ler atentamente todas as informações do rótulo do produto, para saber se aquele tipo corresponde às expectativas de consumo. “Certamente devem ser consumidas com muito cuidado e moderação, pois várias versões têm não apenas o sabor, mas a composição equivalente à de uma guloseima”, lembra a médica.
Biscoitos integrais – “Apesar de ser integral, contém açúcares, gordura, aditivos químicos. Além do mais, na grande maioria dos produtos, a farinha de trigo aparece antes da farinha de trigo integral na lista de ingredientes, portanto não é 100% integral, e ainda conta com a presença de açúcares adicionados e emulsificantes, que favorecem o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas, se consumidos com frequência”, diz Marcella.
Gordura de coco – segundo a médica, essa gordura conta com aproximadamente 50% de TCM, um tipo de gordura que pode ser utilizada mais rapidamente como fonte de energia, quando comparada a ácidos graxos de cadeia curta. “Mas ela tem 9 Kcal/g, não tem efeito termogênico. Estudos recentes demonstram que o consumo excessivo pode ter impactos negativos no perfil lipídico e aumento de risco para doenças cardiovasculares”, diz a médica.
Mel, açúcar mascavo e açúcar de coco – essas são fontes de carboidratos simples que possuem mais propriedades nutritivas que o açúcar branco e não passam por processos de refino. No entanto, mesmo com esses benefícios, devem ser consumidos com muita moderação, já que são açúcares, ricos em calorias. “Há 309 kcal/100 g de mel, 380 kcal/100 g de açúcar mascavo e 380 kcal/100 g de açúcar de coco, portanto podem contribuir para o ganho de peso e desequilibrar dos níveis de açúcar no sangue”, alerta a médica.
Pasta de amendoim – amendoim é uma leguminosa, rica em gordura, portanto um alimento hipercalórico, de forma que 100 g tem 588 kcal. Esse é um alimento mais “fat” do que “fit”. “Quase 50% dessas calorias são ácidos graxos bons, principalmente oleicos, 25% proteínas, 20% carboidratos. Pode ajudar na saciedade, mas não deve ser consumida mais que uma colher de sopa ao dia. As pessoas com histórico de alergias alimentares devem ter um cuidado especial”, diz a médica. Em alguns casos, uma opção pode ser o doce de leite, que possui muito menos calorias. Também já há no mercado opções em pó da pasta de amendoim, em que o excesso de gordura é retirado, reduzindo as calorias.
Peito de peru – Marcella destaca que, mesmo que seja uma carne magra, o peito de peru é um embutido, assim como a linguiça, salame e presunto, rico em aditivos químicos e sal, em excesso trazem malefícios à saúde, como a hipertensão e alterações metabólicas.
Tapioca – feita com a fécula de mandioca, a tapioca, que é muito tradicional em algumas regiões do Brasil. “Ela entrou no cardápio como um substituto dos pães para as pessoas com sensibilidade ao glúten, que não têm uma prevalência tão grande na população ocidental”, diz a médica. Só que o mundo fit fez parecer que a tapioca é um superalimento e “fit”, quando a verdade não é bem essa: “A tapioca tem índice glicêmico maior que o pão branco e calorias equivalentes”, diz a médica.
Por fim, Marcella lembra que muitos estudos apontam que o consumo excessivo de adoçantes sintéticos, presentes nos refrigerantes diet, aumenta os riscos de disfunções metabólicas, desenvolvimento de doenças como diabetes do tipo 2 e cardiovasculares. “Portanto, devem ser consumidos eventualmente”, finaliza.
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