Participantes que consumiram uma dieta rica em fibras não tiveram aumento na diversidade do microbioma intestinal
Redação Publicado em 26/07/2021, às 19h00
Pesquisadores demonstraram que o microbioma intestinal - conjunto de micro-organismos que povoam o trato gastrointestinal - está conectado à saúde geral e que uma dieta pode alterar esse sistema. Em um recente estudo preliminar em pequena escala, eles compararam os efeitos de duas dietas no microbioma intestinal e descobriram que a dieta alimentar fermentada aumentou a diversidade do microbioma intestinal e reduziu os marcadores de inflamação.
Em contraste, os participantes que consumiram uma dieta rica em fibras não observaram um aumento na diversidade do microbioma intestinal. A pesquisa, publicada na revista Cell, estabelece bases para pesquisas futuras que explorem com mais profundidade como diferentes intervenções dietéticas podem afetar positivamente o microbioma intestinal de uma pessoa.
O microbioma humano traça as várias bactérias e outros micro-organismos que existem no corpo humano. O microbioma intestinal de uma pessoa é uma localização particularmente diversa desses micróbios em relação a outras partes do corpo. Durante os últimos dez anos, houve um aumento significativo na quantidade de pesquisas conduzidas sobre esse sistema e suas ligações com a saúde humana.
Os pesquisadores demonstraram que o microbioma intestinal desempenha um papel importante na saúde e que sua composição pode afetar o desenvolvimento de muitas doenças crônicas não transmissíveis, como distúrbios gastrointestinais, doenças metabólicas e alguns tipos de câncer.
O microbioma intestinal de uma pessoa geralmente permanece bastante estável durante a vida. No entanto, certos fatores - ambientais, medicamentos e padrões alimentares - podem afetá-lo significativamente. Dadas as ligações entre o microbioma intestinal e a saúde, os cientistas estão interessados em saber exatamente como alterar o microbioma intestinal de uma pessoa.
Esta é uma questão urgente, pois os pesquisadores argumentaram que as dietas ocidentais tendem a reduzir a diversidade dos microbiomas intestinais, resultando em efeitos negativos na saúde das pessoas. Por exemplo, um artigo de 2018 da revista Nutrients, publicado pelo Departamento de Nutrição da Bjørknes University College de Oslo, em conjunto com o Departamento de Ciências Clínicas da Universidade de Bergen, ambas na Noruega, já apontava que os alimentos ultraprocessados, que predominam na dieta ocidental, alteraram os microbiomas intestinais das pessoas.
Como consequência, eles apontaram que essas alterações promoveram inflamação crônica, que é um fator subjacente em muitas doenças crônicas não transmissíveis. Sabendo que a dieta pode afetar o microbioma, os pesquisadores por trás deste novo estudo estavam interessados em determinar os efeitos de intervenções dietéticas específicas.
Se os cientistas puderem mostrar que intervenções dietéticas específicas alteram positivamente o microbioma intestinal de uma pessoa, então, isso poderia, no futuro, constar em recomendações para uma dieta nutritiva e bem balanceada. Se mais pessoas tivessem um microbioma intestinal saudável, isso poderia contribuir para reduzir as doenças crônicas não transmissíveis. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essas doenças são responsáveis por 71% de mortes em todo o mundo a cada ano.
Neste estudo, os pesquisadores analisaram duas intervenções dietéticas: uma dieta com alimentos fermentados e uma dieta rica em fibras. Eles escolheram essas intervenções porque a pesquisa inicial mostrou que tanto o alimento fermentado quanto a fibra promovem mudanças positivas no microbioma intestinal de uma pessoa. O estudo envolveu 36 participantes, dos quais 73% eram mulheres e 81% eram brancos. Todos em geral estavam saudáveis. Os pesquisadores coletaram amostras de sangue e fezes dos participantes por três semanas para atuar como uma linha de base.
Eles, então, designaram aleatoriamente os participantes para uma das duas dietas. A primeira era rica em alimentos fermentados, como iogurte, kimchi e kombucha, enquanto a segunda era rica em fibras. Os participantes aumentaram lentamente a ingestão de alimentos fermentados ou fibras, dependendo do grupo, por quatro semanas. Depois disso, seguiram a dieta rica em fibras ou alimentos altamente fermentados por mais seis semanas.
O grupo de alimentos fermentados aumentou a ingestão de uma média de 0,4 porções para 6 porções por dia. O grupo rico em fibras aumentou a ingestão de 21,5 gramas (g) para 45,1 g por dia. Finalmente, os participantes tiveram quatro semanas durante as quais eles poderiam continuar a dieta se desejassem. Ao longo de cada estágio do estudo, os pesquisadores continuaram a coletar amostras de sangue e fezes.
As amostras de fezes permitiram que eles identificassem quaisquer alterações no microbioma intestinal dos participantes, enquanto as amostras de sangue revelaram quaisquer flutuações nos principais marcadores biológicos de inflamação e saúde geral.
Depois de analisar os dados, os pesquisadores descobriram que a diversidade dos microbiomas intestinais dos participantes que faziam dieta com alimentos fermentados aumentou significativamente. De acordo com Justin Sonnenburg, professor associado de microbiologia e imunologia da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e autor correspondente do estudo:
“Esta é uma descoberta impressionante e fornece um dos primeiros exemplos de como uma simples mudança na dieta pode remodelar a microbiota em adultos saudáveis”.
Os pesquisadores também descobriram que, para as pessoas que faziam dieta com alimentos fermentados, 19 proteínas inflamatórias diminuíram e quatro tipos de células imunológicas tiveram menos ativação. Outro autor correspondente, Christopher Gardner, professor e diretor de estudos de nutrição no Centro de Pesquisa de Prevenção de Stanford comentou que dietas direcionadas à microbiota podem alterar o estado imunológico, proporcionando um caminho promissor para diminuir a inflamação em adultos saudáveis.
Em contraste, os participantes da dieta de fibras não viram mudanças na diversidade do microbioma intestinal e nenhuma diminuição nas 19 proteínas inflamatórias. Os pesquisadores afirmaram que esperavam que o alto teor de fibras tivesse um efeito benéfico geral e aumentasse a diversidade da microbiota. Os dados sugerem que o aumento da ingestão de fibras por si só em um curto período de tempo é insuficiente para aumentar a diversidade. Também notaram que os participantes da dieta rica em fibras tinham mais carboidratos nas amostras de fezes. Isso sugere que eles não possuíam as bactérias intestinais certas para quebrar a fibra completamente.
Eles admitem ser possível que uma intervenção mais longa tivesse permitido que a microbiota se adaptasse adequadamente ao aumento do consumo de fibras. Alternativamente, a introdução deliberada de bactérias consumidoras de fibra pode ser necessária para aumentar a capacidade da microbiota de quebrar os carboidratos.
Assim, como consequência, a equipe afirma que pesquisas adicionais, que rastreiem os efeitos de uma dieta rica em fibras por um período mais longo ou que observem uma dieta rica em fibras e alimentos fermentados podem fornecer mais informações sobre como os médicos podem alterar positivamente o microbioma intestinal de uma pessoa. Além disso, estudos futuros podem se beneficiar de uma amostra maior e mais diversa que este.
Ortorexia: conheça os principais sinais do transtorno alimentar
Menopausa pode aumentar o apetite por alimentos gordurosos
Estudo: saúde mental das mulheres é mais afetada pela alimentação
Minha alimentação está péssima na pandemia. Como voltar aos trilhos?