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BBB e vida real: como estar confinado pode afetar nossa saúde mental

No BBB21 e fora dele, alguns fatos recentes chamaram atenção para a nossa saúde mental - Reprodução/Facebook
No BBB21 e fora dele, alguns fatos recentes chamaram atenção para a nossa saúde mental - Reprodução/Facebook

Jairo Bouer Publicado em 16/02/2021, às 16h08

Nos últimos dias, na casa do BBB e aqui fora no mundo real, alguns dados e acontecimentos chamaram a atenção para a questão da saúde mental. Uma pesquisa divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo revelou que o Brasil é um dos países que mais sofre com sintomas de depressão e ansiedade durante a pandemia. Já nas redes sociais do ator Fiuk, a equipe que cuida das postagens avisou que ele estaria sofrendo com abstinência de antidepressivos e de ansiolíticos.

Seria importante lembrar que saúde mental vai muito além da presença ou ausência de um transtorno mental. Ela é definida, simplificadamente, como a forma que um indivíduo lida com suas questões emocionais, relacionais e sociais (ambientais). É como “eu” tento buscar um ponto de equilíbrio, entendendo minhas dificuldades e vulnerabilidades, diante das adversidades que a vida e os relacionamentos podem me apresentar.

Pandemia e saúde mental

Fica claro por esse conceito mais amplo que todos sofremos algum impacto com o isolamento social e as incertezas impostas pela pandemia. Não houve quem em meio à mudança de rotina, ao medo de adoecer, de perder o emprego e de enfrentar a distância dos amigos não sofresse com a nova realidade. A saúde mental de todos foi colocada à prova. E muita gente adoeceu!

Não é à toa que o trabalho realizado pela USP e pela Unifesp, em parceria com a Universidade Estadual de Ohio (EUA), mostra que o Brasil lidera os índices de sintomas de ansiedade e de depressão no ano de 2020. Além da própria pandemia, o enfrentamento caótico e acéfalo do novo coronavírus aqui no país, conduzido por lideranças que chegaram a duvidar da gravidade da situação, geraram ainda mais estresse na população.

A vida nos realities

No mundo paralelo dos realities, o que acontece no mundo aqui fora é amplificado pelo isolamento, pelo convívio forçado com gente que não pensa da mesma forma, pela saudade da família e dos amigos, pelo estresse da competição (“será que chegou minha vez de ser expulso?”) e pela exposição 24 horas de tudo o que você pensa, faz ou sente. Não é fácil manter a saúde mental nessas condições, e talvez essa questão seja ainda mais difícil para quem já enfrentou ou enfrenta um diagnóstico de transtorno mental.

Na última edição de A Fazenda a equipe de Raissa Barbosa, depois de uma série de reações mais explosivas da modelo, avisou ao público que ela sofria de síndrome de borderline, um transtorno em que a pessoa pode ter uma dificuldade muito maior em lidar com situações de estresse, de exclusão e de frustrações. Mas testar esses limites dos participantes não é justamente uma das estratégias mais usadas por diversos “jogadores” nos programas de confinamento?

Na última semana no BBB, depois de Fiuk se apresentar abatido em diversas situações e com crises e choro, a equipe que cuida das redes do ator fez um post em suas redes apontando que ele pode estar enfrentando sintomas de abstinência a medicamentos. Depois disso, uma serie de discussões foram levantadas novamente sobre a questão da saúde mental no confinamento.

Lidar com situações-limite, testar a paciência, checar a resiliência, medir a capacidade de interagir com outros e antever estratégias são as molas propulsoras desses jogos.  Ser autêntico e se mostrar como você é também parece ser uma outra forma de cativar atenções. É natural que as pessoas se expressem de formas distintas, até mesmo antagônicas nesses quesitos. Mas será que existe um limite nesses extremos? Existiria um ponto de corte que deveria ser observado para manutenção da saúde mental do individuo, da casa e do público?

Ser mais ou menos impulsivo é diferente de explodir diante de qualquer frustração?  Ser mais ou menos manipulador é diferente de ter atitudes francamente antissociais? Beber e ficar mais alegre, mais expansivo, até mais chato, é diferente de não conseguir beber e administrar seu comportamento? Ter tomado remédio para controlar ansiedade e depressão e estar bem é diferente de ter que encarar uma abstinência?

Essas são questões importantes que os próprios candidatos deveriam pensar antes de se candidatar, que os recrutadores de “casting” poderiam ter em vista ao selecionar participantes, e que nós (espectadores) precisamos lembrar ao avaliar atitudes de quem está lá dentro e o que pode estar acontecendo entre quatro paredes. Além de trazer impactos para a vida emocional e reputação pessoal do envolvidos, sem observar alguns desses limites, corre-se o risco de fomentar ainda mais o estigma em relação à saúde mental de todos nós.

(Texto extraído da Coluna do Jairo Bouer no UOL VivaBem)