Empresas já vendiam o cobertor, mas não havia evidências científicas para apoiar essas alegações
Redação Publicado em 11/10/2022, às 12h00
Pesquisas anteriores já haviam demostrado que cobertores pesados podem ajudar pessoas que têm problemas para dormir devido à insônia, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e autismo. Agora, pesquisadores da Universidade de Uppsala, na Suécia, encontraram evidências de que o uso de um cobertor pesado aumenta a quantidade de melatonina – um hormônio que ajuda a dormir – produzida naturalmente no corpo. O estudo foi publicado recentemente no Journal of Sleep Research.
A glândula pineal do cérebro cria o hormônio melatonina. O corpo aumenta naturalmente a produção dela quando escurece lá fora, sinalizando que é hora de descansar. Isso também ajuda a garantir que o ritmo circadiano — nosso relógio biológico de 24 horas — está sincronizado, ajudando você a dormir à noite. Embora o corpo produza melatonina natural, as pessoas que lutam para adormecer e permanecer dormindo podem optar por tomar melatonina suplementar antes de dormir. Pesquisas anteriores mostram que esses suplementos também podem ajudar com certas condições, incluindo enxaquecas, lesão cerebral traumática e zumbido.
A Food and Drug Administration, agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, atualmente não regula os suplementos de melatonina. No Brasil, o suplemento foi aprovado pela Anvisa em outubro de 2021 e chegou às farmácias em dezembro do mesmo ano. Embora seja improvável que uma pessoa tenha uma overdose de melatonina, tomar muito dela pode resultar em efeitos colaterais, incluindo dores de cabeça, sonolência, tontura, náusea, irritabilidade e/ou inquietação, boca e/ou pele secas e sonhos estranhos ou suores noturnos.
Cobertores pesados, chamados de weighted blankets no exterior, têm entre três a 30 quilos e ajudariam os mais ansiosos e estressados a ter uma melhor noite de sono. Costuma ser feito com um material pesado no tecido, geralmente grânulos de vidro ou plástico ou metal extrafino, com um revestimento normalmente de algodão. Eles estão disponíveis em diferentes pesos. O indicado é que tenha entre 5% a 12% do peso corporal de quem o usa.
Eles têm se tornado bastante populares no mundo todo, pois muitas empresas que vendem esses cobertores afirmam que melhoram o sono, por exemplo, aumentando os hormônios do bem-estar, como a ocitocina, e os hormônios promotores do sono, como a citada melatonina. No entanto, não havia evidências científicas para apoiar essas alegações. Por isso, o pequeno estudo foi realizado.
No artigo, os pesquisadores revelaram que os cobertores usados no estudo foram fornecidos pela Cura of Sweden, uma empresa que vende cobertores pesados na Europa. Além disso, um dos autores do estudo é funcionário desta empresa. Os autores, no entanto, afirmam que os financiadores não tiveram nenhum papel no modelo do estudo ou na análise dos dados.
A equipe mediu a quantidade de melatonina, ocitocina e cortisol na saliva de 26 homens e mulheres jovens depois que dormiram com um cobertor leve ou um cobertor com peso igual a 12% do peso corporal de cada pessoa. Após a análise, os pesquisadores descobriram que o uso de um cobertor pesado aumentou a concentração de melatonina de um participante em sua saliva em cerca de 30%.
A equipe de pesquisa não relatou nenhuma alteração na quantidade de oxitocina ou cortisol na saliva dos participantes. Além disso, os cientistas não mediram uma mudança na atividade do sistema nervoso dos participantes.
Os pesquisadores afirmaram não terem ficado surpresos ao encontrar evidências de que um cobertor pesado ajudaria a aumentar os níveis de melatonina de uma pessoa. Além de luz, refeições e atividade física, é concebível que deitar na cama coberto por um cobertor possa promover a liberação de melatonina. Devido à pressão mais significativa sobre o corpo, os cobertores pesados podem amplificar esse processo, explicaram.
Profissionais que não estiveram envolvidos no estudo, mas analisaram os dados disponíveis, admitiram ser sugestivo que a estimulação de pressão profunda com cobertores pesados produza uma diminuição na estimulação do neurônio simpático, o que significa que o paciente teria menos interrupções ou despertares ao tentar iniciar ou manter o sono. Isso pode ser um fator promotor da mudança nos níveis de melatonina observada no estudo.
Mesmo quando ainda não está claro, o mecanismo pelo qual os cobertores pesados influenciam o dormir, clinicamente, a estimulação por pressão profunda traz alguns benefícios na qualidade do sono em alguns pacientes. O papel dos cobertores de peso pode ser uma medida coadjuvante para melhorar certos sintomas de insônia, especialmente em pacientes com ansiedade relacionada ao sono.
Para os próximos passos do estudo, os pesquisadores disseram que são necessários maiores ensaios, incluindo uma investigação sobre se os efeitos observados sobre a melatonina são sustentados por períodos mais longos. Assim, a mesma pesquisa precisaria ser realizada com uma amostra maior de participantes para validar os resultados.
Para observadores externos, seria ideal uma avaliação das alterações nos níveis de melatonina e cortisol nos mesmos indivíduos ao longo da vida ou a mesma medida em pessoas de diferentes faixas etárias, pois, geralmente, com o processo de envelhecimento normal os distúrbios do sono parecem ser mais prevalentes clinicamente.
Pesquisadores não envolvidos na pesquisa afirmaram que gostariam de que a correlação entre concentração salivar pré-sono de melatonina e o índice de excitabilidade por polissonografia seriada em pacientes sem e com uso de mantas de peso fosse avaliada, assim como os efeitos de mantas de diferentes pesos nesses mesmos indivíduos.
Difícil pensar em como seria usar esses cobertores em países como o Brasil, onde o clima é tropical e são raros os dias em que é preciso se cobrir muito.
Fonte: MedicalNewsToday
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