O consumo de medicamentos para dormir vem aumentando ano a ano no Brasil, em especial após o início da pandemia de covid-19. Dados da indústria farmacêutica de 2023 mostravam um aumento de 30% nas vendas dos medicamentos entre setembro de 2019 e 2023. De acordo com levantamento da epharma, as vendas de medicamentos para insônia dispararam 100,5%, de 2022 para 2023, entre os usuários do Programa de Benefício de Medicamentos (PBM). O dado está relacionado ao crescimento de 173% no número de beneficiários que consomem essa categoria de medicamento, quase triplicando de 2022 para 2023.
Nos Estados Unidos, o panorama não é diferente, dados do Centro de Controle de Doenças (CDC) e do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde da Prevenção daquele país descobriram que cerca de 8,4% dos adultos tomam medicamentos para dormir na maioria das noites para ajudá-los a adormecer e continuar dormindo. A tendência foi mais pronunciada em mulheres e idosos.
Um relatório do CDC analisando o uso de medicamentos para dormir entre 2005 e 2010 descobriu que apenas 4% dos adultos usavam soníferos – o que, naquela época, também era mais comum entre mulheres e adultos mais velhos. Thomas Kilkenny, diretor do Instituto de Medicina do Sono do Hospital Universitário Staten Island, acredita que a culpa é do estresse.
Uma pesquisa de 2021 descobriu que a grande maioria dos americanos (84%) passou por um estresse significativo, fosse ele em virtude da vida familiar, financeiro, de doenças, especialmente com a pandemia. Tudo isso pode alterar a capacidade deadormecer e continuar dormindo Novos dados do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos EUA e do Centro Nacional de Estatísticas de Saúde da Prevenção descobriram que cerca de 8,4% dos adultos tomam medicamentos para dormir na maioria das noites para ajudá-los a adormecer e continuar dormindo. A tendência foi mais pronunciada em mulheres e idosos.
Segundo o estudo “The role of insufficient sleep and circadian misalignment in obesity”, publicado na revista científica Nature Reviews Endocrinology, alguns dos efeitos da falta de sono são a redução do gasto de energia em 3%, alteração dos níveis de hormônios do apetite e influência nas escolhas alimentares menos saudáveis do que em condições de sono adequado, contribuindo para o aumento de incidência de casos de obesidade.
As vendas de medicamentos para tratamento de insônia vêm crescendo exponencialmente nos últimos anos, acompanhando a evolução do número de usuários do Programa de Benefícios de Medicamentos. O cuidado com a saúde do sono pode interferir diretamente no controle do peso e evitar o desencadeamento de outras doenças.
Segundo o levantamento, São Paulo foi o Estado com maior aumento de vendas de classes terapêuticas para insônia, seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro, respectivamente. Em relação aos princípios ativos, zolpidem e eszopiclona foram os mais vendidos no período.
Em 2023, a economia gerada nas vendas de medicamentos para combater a insônia no PBM apresentaram uma evolução de 290%, representando uma economia de quase quatro vezes em relação aos valores de 2022.
Muitos padrões de trabalho e estilos de vida atuais, além do uso frequente das novas tecnologias, como tablets e celulares, não favorecem um sono adequado. Além disso, a falta de sono, juntamente com o desalinhamento circadiano, predispõe indivíduos a uma saúde metabólica deficiente, facilitando o ganho de peso em razão da má alimentação. Com o ganho de peso, há o aumento do risco de desenvolver alguns problemas de saúde, como doenças cardiovasculares.
A insônia se refere a um tipo de distúrbio do sono. Se você vive com insônia, pode:
-ter dificuldade em adormecer, continuar dormindo ou ambos,
-acordar de várias horas de sono sem se sentir revigorado,
-sentir fadiga e dificuldade de concentração ao longo do dia.
O sono de qualidade desempenha um papel importante no bem-estar geral. Não dormir o suficiente regularmente pode ter um grande impacto na saúde física e mental, sem falar na qualidade de vida. Entre os distúrbios do sono, a insônia é o mais comum.
Normalmente, você pode reconhecer a insônia pelos seguintes sintomas:
-acordar muito cedo e não conseguir voltar a dormir,
-passar grande parte da noite acordado, preocupado em não adormecer de novo,
-ter um padrão consistente de sono interrompido,
-dificuldade em adormecer depois de ir para a cama.
Como resultado, você pode começar a sentir outros sintomas relacionados à falta de sono, incluindo: fadiga, irritabilidade e outras alterações de humor e dificuldade em se concentrar ou lembrar coisas, ganho de peso.
Os especialistas descrevem a insônia de algumas maneiras diferentes, dependendo de suas características específicas:
-A insônia aguda refere-se a dificuldades para dormir de curto prazo que geralmente não duram mais do que algumas semanas.
-A insônia crônica refere-se à insônia que afeta o sono regularmente por 3 ou mais dias por semana, normalmente por um período de 3 meses ou mais.
-A insônia de início descreve a dificuldade em adormecer. A dificuldade para dormir pode ocorrer como resultado do uso de cafeína, sintomas de saúde mental ou outros gatilhos comuns de insônia, mas também pode ocorrer com outros distúrbios do sono.
-A insônia de manutenção refere-se à dificuldade em permanecer dormindo depois de dormir ou ao acordar cedo demais. Este tipo de insônia pode estar relacionado a sintomas subjacentes de saúde e de saúde mental – mas ficar acordado e preocupado por não dormir o suficiente pode piorar a situação.
-A insônia terminal é aquela em que a pessoa desperta antes do horário pretendido e não consegue voltar a dormir.
A insônia também pode ser primária (idiopática) ou secundária (comórbida). A primária não decorre de nenhuma causa clara ou de uma condição de saúde ou de saúde mental existente. A insônia secundária, por outro lado, está relacionada a causas subjacentes, incluindo dor crônica ou doença, condições de saúde mental, como depressão ou ansiedade, trabalho por turnos, certos medicamentos.
Normalmente, o tipo de insônia que você sente tem muito a ver com as causas subjacentes. As possíveis causas de insônia aguda, por exemplo, podem incluir estresse, um evento perturbador ou traumático, mudanças nos hábitos de sono (como dormir em um hotel, em uma casa nova ou com um parceiro pela primeira vez), dor física ou doença, jet lag e uso de certos medicamentos.
A insônia crônica pode ocorrer por si só ou como resultado de:
-condições de dor crônica, como artrite ou dor nas costas;
-problemas psicológicos, como ansiedade, depressão ou transtornos por uso de substâncias;
-apneia do sono e outros distúrbios do sono;
-condições de saúde como diabetes, câncer, doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) ou doenças cardiovasculares.
A insônia pode afetar pessoas de qualquer idade ou sexo, embora se desenvolva mais comumente em adultos mais velhos; pouco antes, durante e depois da menopausa. Os fatores de risco associados à insônia incluem:
-altos níveis de estresse, que podem estar relacionados a desafios da vida, dificuldades financeiras ou preocupações familiares e de relacionamento;
-viajar para fusos horários diferentes;
-ter um estilo de vida sedentário;
-ter horários variados de sono-vigília ou horários irregulares, o que pode acontecer com -mudanças frequentes no horário de trabalho ou trabalhar por turnos;
-tirar cochilos;
-beber muita cafeína;
-consumir álcool e tabaco;
-dificuldade em relaxar na hora de dormir.
Você já passou uma noite acordado se preocupando com algo que não conseguia controlar? A insônia geralmente surge com a ansiedade, e a ligação pode ocorrer nos dois sentidos. Você pode achar difícil adormecer quando não consegue acalmar sentimentos persistentes de preocupação e medo, por exemplo. Mas a insônia crônica pode deixá-lo ansioso por todo o sono que não consegue ter, sem falar que torna mais difícil administrar emoções difíceis e indesejadas durante o dia.
Esteja você lidando com um transtorno de ansiedade ou ansiedade de curto prazo relacionada a um estressor específico, como uma situação de trabalho desafiadora ou um conflito em seu relacionamento, o apoio de um profissional de saúde mental pode ajudá-lo a começar a lidar com todos os seus sintomas.
Se a sua insônia estiver relacionada à ansiedade, a terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ser uma forma eficaz de controlar ambas as condições (mais sobre isso mais tarde). Você também pode tomar medidas para controlar a ansiedade mais leve por conta própria:
-adicionar alimentos que ajudam a reduzir a ansiedade à sua dieta;
-fazer alguma atividade física todos os dias;
-adicionar estratégias de relaxamento à sua rotina de autocuidado;
-reservar tempo para hobbies e atividades divertidas.
As evidências sugerem uma ligação estreita entre insônia e depressão. Uma meta-análise de 34 estudos em 2016 concluiu que o sono insatisfatório, especialmente em momentos de estresse, parecia aumentar significativamente o risco de depressão. Num estudo de 2018 envolvendo 1.126 adultos que não tinham diagnóstico de insônia ou depressão quando o estudo começou, o risco de depressão aumentou à medida que os sintomas persistentes de insônia pioraram ao longo do tempo.
Além do mais, as dificuldades para dormir – incluindo a insônia – estão entre os principais sintomas da depressão. Mas aqui estão as boas notícias: os mesmos tratamentos muitas vezes ajudam tanto a depressão como a insónia, independentemente da condição que surge primeiro. Os tratamentos mais comuns são terapia, incluindo terapia cognitivo-comportamental, antidepressivos, mudanças no estilo de vida, incluindo melhores hábitos de sono, exercícios regulares e meditação.
Se já tentou várias maneiras de adormercer e acha que nada resolveu e que precisa de verdade de medicação para dormir, nunca se automedique, procure um médico.
Fontes: epharma / Healthline
Cármen Guaresemin
Filha da PUC de SP. Há anos faz matérias sobre saúde, beleza, bem-estar e alimentação. Adora música, cinema e a natureza. Tem o blog Se Meu Pet Falasse, no qual escreve sobre animais, outra grande paixão. @Carmen_Gua