Vários estudos já apontaram os benefícios da prática regular de atividades físicas na prevenção e também no tratamento de sintomas depressivos e ansiosos.
Mas uma pesquisa recente vai além e sugere que uma corrida leve frequente tem efeitos comparáveis ao uso de antidepressivos. O trabalho foi apresentado no Congresso do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia, realizado este mês em Barcelona, na Espanha.
Os pesquisadores descobriram que o programa ainda trouxe como consequência uma melhora na condição física dos participantes, apesar do fato de que manter a atividade regular tenha sido um desafio para eles.
A equipe acompanhou 141 pessoas com depressão, ansiedade ou ambos. Os participantes puderam escolher se queriam seguir o tratamento apenas com medicamentos (sem correr) ou com terapia de corrida (sem medicamentos).
Ao longo de 16 semanas, 45 pessoas foram tratadas com um inibidor seletivo de recaptação de serotonina (ISRS), que é uma classe de antidepressivo, e 96 seguiram um programa de corrida.
Os participantes do grupo dos medicamentos receberam escitalopram em uma dose inicial de 10 miligramas por dia. Os sintomas foram gerenciados por um psiquiatra, que poderia decidir se a dose precisava ser aumentada. Se o escitalopram fosse considerado ineficaz ou mal tolerado, o remédio era substituído pela sertralina, outro antidepressivo bastante utilizado.
A terapia de corrida consistia em sessões supervisionadas de corrida leve ao ar livre de 45 minutos, de duas a três sessões por semana, o que está alinhado com as recomendações de saúde pública dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
No final do estudo, cerca de 44% em cada grupo mostraram uma remissão de seus sintomas de depressão e ansiedade, mas os autores observaram que os sintomas ainda eram "consideráveis".
No que diz respeito à saúde física, no entanto, as mudanças foram mais favoráveis entre os corredores, que viram uma diminuição na frequência cardíaca, na pressão sanguínea, na circunferência da cintura e um aumento na função pulmonar.
Por outro lado, o grupo que usou antidepressivos experimentou sinais de declínio físico, com aumento de peso, pressão arterial e triglicerídeos mais altos, e a variabilidade da frequência cardíaca mais baixa (um sinal de menor resiliência).
A equipe de pesquisa destacou que o exercício aborda diretamente o estilo de vida sedentário que é bastante comum em pessoas com transtornos depressivos e de ansiedade. Não só sair para se exercitar ao ar puro traz benefícios, como também o contato com outras pessoas e a experiência de cumprir metas pessoais.
Porém, se manter um programa de exercícios pode ser um desafio para muita gente, a tarefa pode ser ainda mais árdua para quem sofre com a saúde mental. Apenas 52% no grupo de corredores aderiram ao protocolo, enquanto 82% no grupo de medicamentos conseguiram manter seu regime de medicação. Em outras palavras, é muito mais fácil tomar um medicamento do que mudar o comportamento de alguém.
Para a autora principal do estudo, Brenda Penninx, professora psiquiátrica na Universidade Vrije, em Amsterdã, a corrida regular pode reduzir sintomas depressivos de pelo menos parte das pessoas que sofrem de depressão. “Os efeitos sobre os resultados de saúde mental foram bastante comparáveis aos observados no grupo que usou antidepressivos", afirmou.
Ela admite que, para a maioria das pessoas, um programa de exercícios pode não substituir os medicamentos, mas sim ser oferecido como uma opção de tratamento adicional, a ser administrada de maneira bem orientada e supervisionada por profissionais treinados. Ainda mais para depressões mais graves.
A pesquisadora ainda acrescenta que a corrida pode não ser para todo mundo, e pessoas deprimidas podem obter benefícios semelhantes com outras atividades de sua preferência, como ciclismo, natação ou esportes como futebol ou tênis.
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin