A qualidade da pele deve ser mantida com cuidados de fora para dentro e de dentro para fora. Não adianta gastar fortunas tentando estimular a produção de colágeno se não temos proteínas suficientes, ou se estamos inflamados.
Vamos falar de radicais livres. Como efeito colateral da produção de energia por nossas mitocôndrias, temos a formação de radicais livres e, como nosso organismo é perfeito, temos uma defesa antirradicais livres muito eficiente. Se temos muitos radicais livres e uma defesa insuficiente, chamamos de estresse oxidativo.
Hábitos saudáveis conseguem diminuir a produção destes radicais assim como aumentar a defesa. Podemos dividir estes hábitos com pilares da medicina do estilo de vida: dieta, atividade física, sono e controle do estresse.
Quando comemos açúcar refinado ou farinha branca, a absorção é muito rápida e vira glicose no sangue de forma abrupta, por isso são considerados alimentos de alto índice glicêmico. O organismo tem que fazer um esforço danado para se livrar desta glicose do sangue, o que acarreta uma formação enorme de radicais livres, deixando o organismo todo inflamado. Na pele, esta inflamação representa mensagens erradas para as células, avisando que algo errado está acontecendo, mas é fake news... o tecido produz substâncias inflamatórias que podem aumentar a produção de melanina, formando manchas acastanhadas, deixar a pele mais sensível, mais avermelhada, o colágeno e a elastina têm uma formação alterada, com menor elasticidade e mais formação de rugas. Escolher alimentos com índice glicêmico mais baixo evita toda esta inflamação e em duas a três semanas o resultado já pode ser notado com uma pele mais viçosa. Além disso, conseguimos aumentar a defesa antirradicais livres com alimentos ricos em vitaminas e sais minerais.
Além de um ambiente sem inflamação, temos de fornecer nutrientes como proteínas para que tenhamos tijolos para a produção de colágeno. Se não temos ingestão suficiente de proteínas, o organismo não vai fazer nosso querido colágeno, ele vai garantir o funcionamento de órgãos vitais como coração, cérebro, fígado, rins a beleza da pele com certeza ficará para depois.
Setenta por cento de nosso organismo é composto por água, e existe um contingenciamento de necessidade de água extremamente rigoroso. O sangue tem de circular, se tomamos pouca água o rim passa a filtrar menos, eliminando menos toxinas, e todos os órgãos passam a trabalhar com menos água.
Existe uma condição, muito frequente chamada hipohidratação, que é o consumo insuficiente de água de maneira crônica, o organismo se adapta a viver com menos água, ele entende que estamos em ambiente árido tipo deserto e temos de sobreviver a isso. Temos até menor produção de hormônio da sede, se estamos no deserto, não devemos estressar o cérebro pedindo água que não existe.
A pele é nosso maior órgão. Os microvasos da pele se fecham, diminuindo a evaporação de suor, as glândulas funcionam menos e temos uma pele mais seca e sem vitalidade, portanto com muito menos viço. O consumo de água estimado por dia é muito difícil saber, depende de atividade física, temperatura do ambiente e até umidade relativa do ar, mas, estima-se que 30 a 50 ml de água por quilo por dia é suficiente para manter o equilíbrio. Outro sinal é a cor da urina, que deve ser amarelo bem claro.
se não gastamos a energia que nossas mitocôndrias produziram, há um acúmulo de radicais livres dentro dela e, como uma usina nuclear, antes que a célula toda exploda, o DNA (o chefe da célula, que fica no núcleo) simplesmente manda matar as mitocôndrias. O lixo atômico que a morte da mitocôndria representa é enorme, ou seja, mitocôndrias morrendo é estresse oxidativo. Ë o que acontece quando tiramos férias da academia, que seja por 2 semanas, ao voltarmos, estamos com sensação de inchaço, cansaço, sem resistência, morremos na esteira. Sim, matamos nossas mitocôndrias e estamos inflamados. A boa notícia é que elas voltam rápido com a retomada de exercícios físicos. O lixo atômico é reciclado em mitocôndrias novas. Exercício físico é um excelente antioxidante! Essa conta reflete na pele.
Apesar de nosso cérebro corresponder a cerca de 2% de nosso peso corporal, o consumo de oxigênio chega a 20% do total diário. E usamos apenas alguns mesmos neurônios em nossas atividades de rotina. No final do dia, há muitos radicais livres no cérebro e esse acúmulo faz com que nada funcione muito bem e temos a sensação de sono (teoria de radicais livres do sono). Durante o sono, há um relax destes neurônios e ativamos outros, que não usamos durante o dia, como se dividíssemos a atividade entre todos eles. Durante o sono os vasos da pele se dilatam, por isso temos mais frio, nossos batimentos cardíacos ficam mais lentos, a pressão arterial diminui. Ou seja, além de o sono ser um excelente antioxidante, ele aumenta o fluxo sanguíneo na pele. É pura verdade o que nossas avós diziam: sono da beleza, dormir emagrece e rejuvenesce.
Controle do estresse: o cortisol é um hormônio que nos prepara para situação de emergência. Graças a ele sobrevivemos. Ele nos prepara para fugir ou lutar: aumenta os batimentos cardíacos, aumenta a pressão e o fluxo de sangue no cérebro e nos músculos. Esse sangue vem de outros órgãos dos quais não dependemos para fugir: ocorre diminuição de fluxo sanguíneo nos intestinos, estômago, rins e, é claro, na pele. Quem precisa de pele viçosa se está sob ataque? Além disso, ocorre um estado geral de inflamação com aumento proposital de radicais livres que facilitam algumas reações de fuga. E tudo bem, em situações pontuais todas essas alterações ocorrerem. O problema é uma quantidade alta de cortisol de maneira crônica. Ficamos o tempo todo com nosso cérebro mandando produzir cortisol e prontos para fugir ou lutar a qualquer momento. Estresse oxidativo associado a menor vascularização na pele: envelhecimento. E não podemos lidar com o estresse, salvo poucas exceções. Temos de investir nos descansos. Descansos representam interrupções temporárias nesta produção desenfreada de cortisol. E temos de fazer isso uma rotina, disciplina.
A primeira forma é por meio de minidescansos: durante alguns minutos, desconecte-se de suas atividades diárias algumas vezes ao dia; tome um copo de água, olhe pela janela, ouça uma música, medite; alguns minutos são suficientes para restabelecer o equilíbrio. Também são importantes os mididescansos: após o dia de trabalho desconecte-se por um tempo um pouco maior como ir à ginástica, dançar, brincar com as crianças, e mesmo dormir; nos finais de semana saia da rotina, é ótimo antioxidante. E, por fim, temos os maxidescansos: tempo suficiente para realmente desconectar; uma ou 2 vezes ao ano desconecte-se para reconectar de forma mais eficiente com menos cortisol.
Retirar um tempo para si mesmo, olhar no espelho, cuidar da pele, agradecer. Estudos mostram que autocuidado e gratidão são capazes de reduzir marcadores de estresse oxidativo. Obviamente hidratantes, dermocosméticos e tratamentos para estimular o colágeno funcionam e muito bem. Mas temos de fazer nossa parte, sem adoção de hábitos saudáveis nem toda a tecnologia do mundo será eficiente! Manter-se saudável e jovem não é apenas uma questão de pele, mas a pele reflete nossa saúde!
Beatriz Lassance (cirurgiã plástica)*
Cirurgiã plástica formada na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e residência em cirurgia plástica na Faculdade de Medicina do ABC. Trabalhou no Onze Lieve Vrouwe Gusthuis, em Amsterdam, e é membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery) e da American Society of Plastic Surgery. Além disso, é membro do American College of LifeStyle Medicine e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida. Instagram: @drabeatrizlassance
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site Doutor Jairo