Plano que restringe carboidratos está na moda, mas pode ser perigoso para algumas pessoas
Redação Publicado em 11/03/2023, às 09h00
Você já deve ter ouvido falar na dieta cetogênica, ou “keto”, como se diz em inglês. Ela envolve o consumo de baixíssimas quantidades de carboidratos (como arroz, pão e batata) e altas quantidades de gorduras.
Essa dieta tem sido recomendada para perder peso rápido e sem passar muita fome, já que faria o organismo utilizar gordura para obtenção de energia. Mas alguns estudos têm mostrado que, como toda dieta da moda, ela pode ter graves efeitos colaterais para a saúde cardiovascular.
Um estudo apresentado na semana passada no congresso anual do American College of Cardiology mostrou que a dieta cetogênica pode estar associada a níveis mais altos de colesterol “ruim”.
Como resultado, a dieta “keto” poderia dobrar o risco de eventos cardiovasculares, como dor no peito (angina), acúmulo de placas nas artérias, infartos e derrames, segundo os pesquisadores da Universidade de British Columbia, no Canadá.
“Nosso estudo descobriu que o consumo regular de uma dieta autorreferida com baixo teor de carboidratos e alto teor de gordura foi associado ao aumento dos níveis de colesterol LDL, ou colesterol “ruim”, e a um maior risco de doença cardíaca”, disse a principal autora, Iulia Iatan, médica e pesquisadora da universidade.
Dietas com baixo teor de carboidratos e alto teor de gordura (LCHF, na sigla em inglês), como a dieta cetônica, restringem o consumo da nossa principal fonte de energia. Ao privar o corpo de carboidratos, ele é forçado a quebrar a gordura para garantir o funcionamento do corpo.
Para o estudo, a equipe definiu uma dieta LCHF como o consumo de no máximo 25% do total de calorias diárias de carboidratos e mais de 45% do total de calorias diárias em gordura (como a de carnes, leite, abacates etc). Vale destacar que esse modelo é um pouco mais rico em carboidratos do que a dieta cetogênica mais tradicional, que sugere limitar os carboidratos a 10% do total de calorias diárias (além de incluir 20-30% de proteínas e 60-80% de gorduras).
A equipe contou com uma amostra do UK Biobank, um grande banco de dados com informações sobre a saúde de mais de meio milhão de pessoas que vivem no Reino Unido e foram acompanhadas por pelo menos 10 anos. Os participantes preencheram questionários sobre a dieta que seguiam e tiveram sangue coletado para verificar seus níveis de colesterol.
Entre os participantes que seguiam uma dieta LCHF, aqueles com os níveis mais altos de colesterol LDL apresentavam maior risco de um evento cardiovascular. Para a autora principal, quem se interessa em seguir ese tipo de deita deve estar ciente disso e consultar um médico antes de mudar seus hábitos alimentares.
Durante a dieta cetogênica, também é importante que as pessoas tenham seus níveis de colesterol monitorados, além do controle de outros fatores de risco para doenças cardiovasculares, como diabetes, pressão alta, sedentarismo e tabagismo.
Confira:
As descobertas do estudo também sugerem que nem todos respondem a uma dieta LCHF da mesma maneira.“Em média, os níveis de colesterol tendem a aumentar nesta dieta, mas as concentrações de colesterol de algumas pessoas podem permanecer as mesmas ou diminuir, dependendo de vários fatores subjacentes”, avisou Iatan.
Os dados sugerem que existem diferenças individuais que determinam como cada um responde a esse padrão alimentar, algo que ainda não é bem compreendido pelos cientistas. É possível que características específicas ou marcadores genéticos possam prever, no futuro, como cada pessoa responde a esse tipo de dieta.
O trabalho tem limitações, como o fato de ter contado com autorelatos sobre a dieta, e em único período de tempo, algo que pode influenciar os resultados. A equipe sugere que outras pesquisas sejam feitas para confirmar as descobertas. De qualquer forma, procurar um profissional de saúde antes de iniciar qualquer dieta é sempre uma boa ideia.
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