Dieta mediterrânea pode evitar estresse pós-traumático

Estudo mostra que a dieta pode evitar que pessoas expostas a truma tenham o transtorno

Tatiana Pronin Publicado em 24/10/2023, às 09h00

A dieta mediterrânea é rica em frutas frescas, vegetais, nozes, sementes, azeite de oliva e peixes - iStock

Uma dieta mediterrânea, rica em vegetais, frutas e peixes, pode ajudar a reduzir ou evitar os sintomas do transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), de acordo com uma pesquisa publicada esta semana na revista Nature Mental Health.

As descobertas baseiam-se em dados de pacientes de dois estudos — um em 2008 e outro em 2013 — que envolveram dezenas de milhares de participantes do sexo feminino. Elas tiveram informações sobre saúde mental e hábitos alimentares registradas, bem como amostras de fezes analisadas.

As descobertas podem ajudar a orientar recomendações dietéticas para pessoas vulneráveis ao TEPT, como indivíduos que enfrentam guerras ou outras situações de violência.

Para o estudo mais recente, pesquisadores do Hospital Brigham and Women e da Escola de Saúde Pública Harvard T.H. Chan selecionaram 191 mulheres: 44 com sintomas de TEPT, 119 que haviam experimentado trauma, mas sem sintomas de TEPT, e 28 que não haviam experimentado nenhum dos dois.

No geral, as mulheres que seguiram uma dieta mediterrânea — que inclui frutas frescas, vegetais, nozes, sementes, azeite de oliva e peixes — experimentaram menos sintomas de TEPT. Alimentos à base de plantas, em particular, tiveram uma associação negativa com os sintomas, enquanto carnes vermelhas e processadas tiveram uma associação positiva com os sintomas de TEPT.

Ligação entre dieta e TEPT

Aproximadamente 4% da população mundial desenvolve o TEPT em algum momento da vida. Muita gente é exposta a traumas, mas apenas uma pequena porcentagem desenvolve o transtorno. A hipótese dos pesquisadores é que a dieta e o microbioma intestinal, ou seja, as bactérias que habitam o intestino, podem ser uma parte importante da explicação.

Problemas relativos à saúde intestinal têm sido associados a várias doenças mentais, incluindo ansiedade e depressão. O TEPT, em particular, tem sido associado à desregulação em circuitos cerebrais que gerenciam respostas ao estresse e ao medo. Estudos indicam, por exemplo, que pessoas com TEPT têm amígdalas hiperativas, que são uma região do cérebro que ajuda a processar emoções. E alguns trabalhos também sugerem que o microbioma intestinal influencia tanto o desenvolvimento quanto as respostas da amígdala.

Vários componentes da dieta mediterrânea — como fibras e ácidos graxos ômega-3 — são conhecidos por apoiar a saúde intestinal, o que, por sua vez, pode influenciar a função cerebral.

Outro caminho possível para essa conexão é que a dieta mediterrânea teria efeito anti-inflamatório, e a inflamação também é um fator de risco para a depressão e, possivelmente, para o TEPT.

Como é a dieta mediterrânea

A dieta mediterrânea elimina alimentos processados com muito açúcar e gorduras saturadas ou trans, que podem ser altamente inflamatórios. O intestino humano é semi-permeável, e os pesquisadores suspeitam que alimentos processados podem aumentar a sua permeabilidade, o que permite que as bactérias intestinais entrem na corrente sanguínea. Esse processo gera inflamação que pode se espalhar do sangue para o sistema nervoso central e influenciar amplamente a função cerebral.

Assim, é possível que qualquer dieta rica em fibras, frutas frescas, vegetais e gorduras e proteínas à base de plantas tenha esse efeito positivo sobre o cérebro. De qualquer forma, mais estudos são necessários para confirmar a utilidade da dieta mediterrânea, ou de qualquer outra dieta, no tratamento do TEPT.

Eficaz, também, contra a gordura abdominal

Um outro estudo publicado este mês, na JAMA Network Open, mostrou que a dieta mediterrânea foi capaz não apenas de reduzir o risco de doença cardiovascular, mas também de melhorar a massa muscular e reduzir a gordura corporal (especialmente na barriga) de pessoas na meia-idade ou idosas.

O trabalho contou com 1.521 indivíduos, separados em dois grupos. Um deles seguiu a dieta mediterrânea com restrição calórica e praticou atividade física. O outro grupo apenas seguiu a dieta, sem restringir calorias ou fazer mais exercícios.  Após três anos, os integrantes do primeiro grupo observaram redução significativa na gordura visceral (que se acumula na barriga e no tronco), bem como melhora na proporção de massa magra.

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