Estudo mostra que tanto a prisão de ventre quanto a diarreia frequente são sinais de alerta
Tatiana Pronin Publicado em 18/07/2024, às 09h00
Todo mundo faz cocô, mas não todos os dias. A frequência com a qual uma pessoa vai ao banheiro fazer “o número 2” pode dizer muito sobre sua saúde, sugerem pesquisas do Institute for Systems Biology (ISB), organização sem fins lucrativos voltada para estudos biomédicos em Seattle, nos EUA.
Uma equipe liderada pelo ISB examinou dados clínicos, de estilo de vida e outras variáveis de mais de 1.400 adultos saudáveis e descobriu que a frequência com que as pessoas fazem cocô pode ter uma grande influência na fisiologia e na saúde. As informações foram publicadas no Cell Reports Medicine.
Os pesquisadores exploraram dados de participantes de uma empresa focada em bem-estar chamada Arivale. Eles se concentraram num grupo de adultos saudáveis e excluíram aqueles com certas condições de saúde ou uso de medicamentos.
A equipe categorizou a frequência da evacuação auto-relatada em quatro grupos:
- constipação (uma ou duas evacuações por semana);
- baixa-normal (entre três e seis por semana);
- alta-normal (entre uma e três por dia);
- e diarreia.
A equipe, então, procurou associações entre a frequência das evacuações e fatores como demografia, genética, microbioma intestinal, metabólitos sanguíneos e reações químicas no plasma.
O estudo mostrou que idade, sexo e índice de massa corporal (IMC) estavam significativamente associados à frequência das evacuações. Pessoas mais jovens, mulheres e indivíduos com menor IMC tendiam a ir ao banheiro para fazer “o número 2” com menor frequência.
"Pesquisas anteriores mostraram como a frequência dos movimentos intestinais pode ter um grande impacto na função do ecossistema intestinal", disse Johannes Johnson-Martinez, o autor principal do estudo.
Especificamente, se as fezes permanecem por muito tempo no intestino, os micróbios consomem toda a fibra dietética disponível, que fermentam em ácidos graxos de cadeia curta benéficos. Depois disso, o ecossistema passa a fermentar proteínas, produzindo várias toxinas que podem entrar na corrente sanguínea."
De fato, os pesquisadores também mostraram que a composição de micróbios do microbioma intestinal dos participantes do estudo era um indicador claro da frequência de evacuações.
Bactérias intestinais fermentadoras de fibras, frequentemente associadas à saúde, pareciam prosperar em uma zona de frequência ideal de evacuações, ou seja: quando as pessoas faziam cocô entre 1-2 vezes por dia.
No entanto, bactérias associadas à fermentação de proteínas ou ao trato gastrointestinal superior tendiam a estar em maior quantidade naqueles com constipação ou diarreia, respectivamente.
Da mesma forma, vários metabólitos sanguíneos e estruturas plasmáticas mostraram associações significativas com a frequência das evacuações, sugerindo possíveis ligações entre a saúde intestinal e o risco de doenças crônicas.
Especificamente, subprodutos da fermentação de proteínas de micróbios conhecidos por causar danos aos rins, como “p-cresol-sulfato” e “indoxil-sulfato”, estavam em maior quantidade no sangue de indivíduos que relataram constipação, enquanto produtos químicos associados a danos hepáticos estavam elevados em indivíduos que relataram diarreia.
Os níveis sanguíneos de indoxil-sulfato, em particular, estavam significativamente associados à função renal reduzida, fornecendo suporte preliminar para uma ligação entre a frequência do cocô, metabolismo microbiano intestinal e danos aos órgãos.
Aqueles indivíduos que relataram consumir uma dieta rica em fibras, melhor hidratação e exercício regular tendiam a se encontrar na zona ideal de evacuações.
"A constipação crônica tem sido associada a distúrbios neurodegenerativos e à progressão da doença renal crônica em pacientes com doença ativa", afirmou o médico Sean Gibbons, professor associado do ISB e autor correspondente do artigo.
"No entanto, não estava claro se as anormalidades nas evacuações são fatores iniciais de doenças crônicas e danos aos órgãos, ou se essas associações retrospectivas em pacientes doentes são meramente coincidências.”
O professor acrescentou que, em uma população geralmente saudável, a constipação está associada a níveis sanguíneos de toxinas microbianas conhecidas por causar danos aos órgãos, antes de haver qualquer diagnóstico de doença.
O estudo também explorou associações entre a frequência das evacuações e ansiedade e depressão, indicando que o histórico de saúde mental está conectado à frequência com que a pessoa faz cocô.
"No geral, este estudo mostra como a frequência dos movimentos intestinais pode influenciar todos os sistemas do corpo e como a frequência anormal pode ser um fator de risco importante no desenvolvimento de doenças crônicas", comentou Gibbons.
As descobertas podem, no futuro, levar a estratégias para gerenciar a frequência das evacuações, inclusive em populações saudáveis, para otimizar a saúde e o bem-estar das pessoas.
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