Redação Publicado em 01/06/2022, às 12h00
Se você está se perguntando se tem uma personalidade propensa ao vício, pode ser útil separar os fatos da ficção e entender a natureza dessa expressão. O termo "personalidade viciante" é usado por algumas pessoas para se referir a um conjunto de traços de personalidade que poderia, em tese, tornar uma pessoa mais propensa a desenvolver compulsões por coisas diferentes, de substâncias (como álcool e drogas) ao amor.
É um termo controverso, mal compreendido e fácil de ser usado indevidamente. Também é carregado de estigma e não é respaldado por pesquisas, pois oferece uma visão incompleta de um problema complexo.
Pesquisas recentes não chegaram a um consenso sobre o que, exatamente, uma personalidade propensa ao vício significa ou se ela realmente existe. Em outras palavras, não há provas de que um tipo de personalidade esteja ligado a uma maior chance de desenvolver comportamentos ligados à dependência ou compulsivos.
A personalidade de adição não é um diagnóstico formal no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição, revisão de texto (DSM-5-TR). Em vez disso, o manual inclui um punhado de diagnósticos que podem envolver dependência emocional ou química, bem como padrões comportamentais cognitivos e compulsivos relacionados a uma ou mais substâncias ou atividades, como por exemplo:
Nenhuma dessas condições está comprovadamente associada a quaisquer traços de personalidade ou tipos de personalidade específicos.
A evidência científica não é conclusiva, então não existe um diagnóstico de “personalidade de adição” ou uma lista de sintomas característicos. Não existe um tipo específico de pessoa com maior probabilidade de desenvolver sintomas de dependência ou transtorno por uso de substâncias. Em vez disso, o que causa esses transtornos é, provavelmente, uma combinação de fatores que incluem experiências na infância, eventos traumáticos, inteligência emocional, biologia e genes.
Ainda assim, pessoas com origens semelhantes podem ter experiências diferentes, portanto, passar por momentos difíceis ou desafiadores não significa que você terá uma condição de saúde mental. Em relação à dependência, pode ser útil pensar nisso como um padrão de modificações comportamentais que ajudaram algumas pessoas a sobreviver a situações difíceis. Segundo psicólogos, a melhor maneira de entender o vício é vê-lo como um mecanismo de enfrentamento que ajuda as pessoas a se recuperarem de um imenso estresse ou trauma.
As substâncias, por exemplo, podem ser uma forma de automedicação, ajudando alguém a se livrar de sintomas fisiológicos desconfortáveis, muitas vezes dolorosos, de um trauma. Hábitos como esse podem provocar um alívio, ainda que temporário. Mas, depois, a pessoa corre o risco de ter mais um problema para enfrentar.
Você pode se sentir dependente de sexo, amor e pessoas. O que você sente é válido e real, mesmo que não venha com o rótulo formal de "vício" ou transtorno por uso de substâncias. Em essência, a dependência se refere a um conjunto de pensamentos e comportamentos compulsivos que a pessoa não consegue controlar, apesar de ter consciência das consequências negativas que isso lhe traz.
Não há evidências suficientes de que é possível experimentar sintomas dependência quando se trata de sexo, amor ou pessoas. Em alguns casos, esses sentimentos e comportamentos podem ser o resultado de outros processos psicológicos, incluindo trauma e dependência emocional.
Não há uma lista estabelecida de traços ou sinais que indiquem que alguém pode ter uma personalidade propensa ao vício ou pode ser mais propenso a desenvolver uma. Em outras palavras, não existe um “tipo” de pessoa que seja mais propensa a enfrentar uma dependência ou um transtorno por uso de substâncias. Mas os sintomas podem lembrar os do transtorno por uso de substâncias:
Em alguns casos, uma “personalidade propensa ao vício” pode ser mencionada se você tiver experimentado esses sintomas repetidamente, ou relacionados a mais de um objeto ou atividade. Por exemplo, se você tende a se sentir assim em todos ou na maioria de seus relacionamentos, hobbies ou interesses. Mas, de novo, isso provavelmente se deve a outros motivos e não ao seu tipo de personalidade.
Não. O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um diagnóstico formal de saúde mental que envolve sintomas como obsessões e compulsões. As obsessões são pensamentos indesejados, angustiantes e persistentes que a pessoa sente que não pode controlar. Compulsões são rituais em que a pessoa se envolve para diminuir a angústia causada pelas obsessões. É possível ter um diagnóstico de TOC e, também, comportamentamentos compulsivos.
Os pesquisadores não podem identificar a causa exata dessa propensão, pois todos são diferentes. É, provavelmente, uma combinação de fatores genéticos e ambientais, como por exemplo:
Terapeutas lembram que dependência e vulnerabilidade genética à dependência são temas complexos, e que talvez o melhor seja evitar de vez o termo "personalidade viciante". Em vez disso, cultivar empatia, compaixão e compreensão. A dependência pode ser um sintoma de sofrimento, desconexão consigo próprio e com os outros, talvez por não saber como sintonizar necessidades, ou por culpa, pressão sobre si mesmo, falta de confiança, ou automedicação. Também pode ser o resultado de um trauma.
Falar em "personalidade propensa ao vício" é complicado por causa do estigma que esse termo carrega. Muitas vezes, é usado pela própria família, ou pela sociedade, de forma pejorativa, que a maioria das pessoas afetadas provavelmente não endossará ao viver com um transtorno. As implicações negativas do termo, lembram os terapeutas, também podem afetar o processo de cura.
Ao rotular alguém como tendo um traço de personalidade, normalmente definimos uma situação como fixa, então as pessoas se sentem sem esperança de mudar. Mas os desafios de saúde mental podem ser gerenciados e o apoio está disponível se você estiver passando por sofrimento mental ou emocional. Não há nada que prove que você terá esses sintomas ou características pelo resto da vida.
O termo “personalidade viciante” é comumente usado para se referir a um conjunto de traços de personalidade que podem, em tese, tornar alguém mais propenso a desenvolver uma dependência. Não é um diagnóstico formal de saúde, nem é respaldado por evidências científicas.Comportamentos compulsivos, ou dependências, são provavelmente o resultado de uma combinação de fatores que incluem biologia, genes, e experiências na infância, entre outros. Eles podem ser gerenciados com apoio profissional, e o alívio é possível. Muitos especialistas, inclusive, afirmam que a personalidade propensa ao vício não passa de um mito.
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