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“Borboletas no estômago": por que associamos emoções à barriga?

O intestino tem o seu próprio sistema nervoso e executa funções sem precisar de instruções cerebrais - iStock
O intestino tem o seu próprio sistema nervoso e executa funções sem precisar de instruções cerebrais - iStock

Redação Publicado em 06/07/2021, às 16h30

A expressão “borboletas no estômago” é uma velha conhecida e está presente em diversas situações da vida, como quando uma pessoa está apaixonada, nervosa ou ansiosa devido a algo importante prestes a acontecer. 

Acredite ou não, essa relação curiosa que o ser humano tem com a sua própria barriga não é apenas uma crença supersticiosa: há realmente um raciocínio científico por trás desse fenômeno. 

De sentir o tal “frio na barriga” a ter coragem de agir, todos esses hábitos relacionados à barriga se originam do chamado – e pouco conhecido – eixo intestino-cérebro. Entender melhor a relação entre essas duas partes do corpo pode ajudar a melhorar o humor e o bem-estar mental

O segundo cérebro

Por centenas de anos, seres humanos têm se referido ao intestino para descrever seus sentimentos ou mesmo justificar algum comportamento no dia a dia: “boca do estômago”; “revirando o estômago”; “empurrar com a barriga”, entre tantas outras expressões. 

Esses ditos populares estão enraizados na ciência por conta do chamado eixo intestino-cérebro, que se refere à relação próxima de funcionamento que existe entre a parte do corpo responsável pela digestão e o cérebro. 

Além disso, o intestino é o único órgão que também tem o seu próprio sistema nervoso local, sendo capaz de executar funções sem a necessidade de instruções cerebrais. Por sua comunicação regular com o cérebro, o intestino é comumente referido como o “segundo cérebro”. 

Confira:

Como funciona o eixo intestino-cérebro?

Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), o cérebro e o intestino são conectados através de mensageiros químicos chamados neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina – ambas frequentemente descritas como hormônios da “felicidade” e da “sensação de bem-estar”,  influenciando no humor e nas emoções

Entretanto, esses neurotransmissores também são produzidos pelas células intestinais e por trilhões de micróbios que vivem no intestino humano. Inclusive, estima-se que mais de 90% da serotonina presente no corpo humano é produzida no intestino. 

Para deixar essa relação entre intestino e cérebro mais clara, basta pensar em um hábito fortemente associado a esse fenômeno: comer. As bactérias intestinais se beneficiam de uma dieta equilibrada e rica em fibras e produzem ácidos graxos de cadeia curta e outras substâncias que influenciam o eixo intestino-cérebro, como o triptofano, que é enviado para o cérebro e convertido em serotonina. 

Todo esse processo pode fazer uma pessoa se sentir bem e é por isso, provavelmente, que, após uma refeição, alguém que estava de mal-humor e com fome, transforme-se praticamente em outra pessoa, satisfeita e com um sorriso no rosto.

A comunicação entre cérebro e barriga é bidirecional, ou seja, é direta e dispensa qualquer intermediação. Porém, parece que o estômago lidera esse bate-papo, já que cerca de 80% das mensagens (como neurotransmissores) vão do intestino para o cérebro em vez do contrário. 

No entanto, existem algumas situações em que o cérebro assume o comando da comunicação e fala com o intestino, o que explica a sensação de “borboletas no estômago”, por exemplo. 

A influência da alimentação

Um intestino feliz e bem funcional poderia não apenas ser benéfico para a saúde física, mas também para o bem-estar mental

Dietas ricas em fontes variadas de fibras – feijão, ervilha, grão-de-bico, soja, lentilha, entre outros – são muito positivas para a diversidade e a riqueza da flora intestinal. Assim, com um alimentação de qualidade, é possível ajudar o intestino a produzir mais dos hormônios de “felicidade" e "bem-estar”, beneficiando, consequentemente, o humor e a saúde mental.

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