Queixa comum entre idosos, pode ter diferentes causas que precisam ser levadas em conta
Paula Cristina Eiras Poço* Publicado em 05/11/2021, às 13h52
Você está satisfeito com seu sono?
Todos nós já passamos por essa experiência - “Não estou dormindo o suficiente... acordo durante a noite... amanheço cansado... Estou com insônia!”
Queixa tão frequente na vida de tantos, a insônia tem apresentações, causas, desencadeantes e duração distintos.
A insônia pode ser de curta duração, frequentemente associada a estressores psicológicos (estresse) ou questões físicas de resolução em curto prazo (dores agudas, por exemplo). A insônia de curta duração geralmente desaparece após a remissão da causa.
Já a insônia crônica pode ter grande impacto na qualidade de vida dos indivíduos e merece uma avaliação mais aprofundada.
Insônia é a insatisfação com o sono, seja em qualidade, seja em quantidade.
Pode ocorrer por dificuldade em adormecer, dificuldade em manter o sono ou despertar precoce. Para ser considerada um transtorno, é necessário que a ocorrência da insônia esteja associada a sofrimento psíquico ou a repercussões no desempenho das atividades diárias.
Entre idosos é comum a queixa de acordar muito cedo. Se o sono tem qualidade e quantidade adequadas, isso pode acontecer devido à combinação da antecipação do horário de início do sono noturno e menor necessidade de tempo total de sono, aspectos normais do envelhecimento.
O idoso pode acordar para urinar à noite e voltar a dormir sem ter impacto na qualidade do sono. Isto não necessariamente representa problema de saúde. As causas são diversas, assunto para próximas publicações.
Outro ponto muito importante a ser avaliado em insônia é que a dificuldade deve ocorrer a despeito de oportunidades de sono adequadas, ou seja, ambiente tranquilo e bons hábitos. O sono tem tudo a ver com a boa rotina, então dar atenção a estes pontos é fundamental para sua melhoria, mesmo em casos de insônia crônica. A chamada “higiene do sono” merece um artigo dedicado a esses cuidados.
Confira:
Como muitos distúrbios em medicina, a causa da insônia crônica é multifatorial. Podemos dividir os fatores, didaticamente, em predisponentes (fatores presentes em determinada população), precipitantes (fatores que atrapalham o sono por si e podem ser o evento inicial de um quadro crônico) e perpetuantes (fatores que levam a um círculo vicioso).
- Mulheres no climatério
- Idade avançada
- História familiar de insônia
- Episódios prévios de insônia
- Temperamento ansioso ou propenso a preocupações
- Transtornos psiquiátricos (principalmente ansiedade e depressão) ou neurológicos (como doença de Parkinson e Alzheimer)
- Noctúria (necessidade de urinar diversas vezes durante a noite)
- Dor crônica
- Efeitos de algumas substâncias e medicamentos (diuréticos, estimulantes, álcool, corticoides entre outros)
- Medo de ter insônia
- Horário irregular de sono
- Permanecer muito tempo na cama
- Cochilos durante o dia
Durante a avaliação médica é importante que sejam explorados todos esses fatores. A decisão a respeito das medidas de intervenção só deve ser finalizada após a avaliação de todos os fatores associados ao histórico de insônia de acordo com as características da pessoa que está sendo avaliada. Uma abordagem incompleta pode ser malsucedida e gerar mais angústia para quem já está em sofrimento.
Por impactar no sono, a noctúria deve sempre ser um dado investigado pelo médico durante a avaliação do sono.
Como falamos, noctúria é a necessidade de urinar diversas vezes durante a noite, situação que pode atrapalhar o sono.
No envelhecimento normal existe a diminuição da produção de hormônio antidiurético (que retém líquido no organismo) durante à noite. Por isso, é comum que o idoso acorde uma ou duas vezes para urinar. Entretanto, este não é o único motivo que leva ao aumento da frequência urinária durante a noite.
Doenças como hiperplasia prostática benigna (crescimento da próstata), diabetes descompensado, insuficiência cardíaca ou renal, bexiga hiperativa, entre outras, devem ser consideradas e adequadamente abordadas. A ação de medicamentos de uso frequente também é de grande importância nesta avaliação.
Desta forma, a avaliação global das condições clínicas do avaliado, de seus hábitos e ambiente é fundamental para que este distúrbio seja tratado adequadamente.
*Sobre a autora
Paula Cristina Eiras Poço - médica graduada pela USP, residência de clínica médica e geriatria pelo HC FMUSP, atualmente assistente do Hospital Dia Geriátrico do Hospital das Clínicas FMUSP, doutoranda em Educação Médica pela USP e Colunista do Portal Trevoo.
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