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O que acontece quando você dá férias à internet do celular

Você já tentou ficar alguns dias sem acessar a internet pelo celular? - iStock
Você já tentou ficar alguns dias sem acessar a internet pelo celular? - iStock

Redação Publicado em 20/02/2025, às 10h00

Os brasileiros passam mais de cinco horas ao dia no celular, segundo pesquisa publicada no ano passado pelo Data.AI. Nos EUA, a média é a mesma. E uma pesquisa da Gallup já revelou que 58% dos usuários norte-americanos em geral, e 80% dos menores de 30 anos, se preocupam com o uso excessivo dos dispositivos.

Com dados como esses em mãos, pesquisadores norte-americanos e canadenses sugerem uma solução. Em um experimento controlado, publicado no periódico PNAS Nexus, eles descobriram que apenas duas semanas sem acesso à internet móvel nos smartphones melhoraram três dimensões do funcionamento psicológico:

  • saúde mental;
  • bem-estar subjetivo;
  •  e capacidade de atenção.

"Os smartphones mudaram drasticamente nossas vidas e comportamentos nos últimos 15 anos, mas nossa psicologia humana básica permanece a mesma", diz o Adrian Ward, professor associado de marketing da Universidade Texas McCombs, nos EUA.

"Nossa grande questão era: estamos adaptados para lidar com a conexão constante com tudo o tempo todo? Os dados sugerem que não estamos."

Ward conduziu o estudo com uma equipe interdisciplinar de especialistas em psicologia, psiquiatria e comportamento do consumidor, das universidades de Alberta e Colúmbia Britânica, no Canadá, e de Georgetown, nos EUA.

Bloqueio de acesso à internet

Os pesquisadores realizaram um estudo clínico randomizado de quatro semanas com 467 participantes, com idade média de 32 anos, que foram instruídos a instalar um aplicativo em seus smartphones. O aplicativo bloqueava todo o acesso à internet, incluindo navegadores e redes sociais, permitindo apenas chamadas e mensagens de texto.

Os participantes ainda podiam acessar a internet em computadores em casa, no trabalho e na escola, mas não estavam mais constantemente conectados ao mundo online.

Para avaliar os efeitos da intervenção ao longo do tempo, os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Um grupo ativou o aplicativo pelas primeiras duas semanas e depois recuperou o acesso à internet. O outro grupo bloqueou a internet apenas nas duas últimas semanas.

Por meio de autoavaliações e testes objetivos baseados em computador, os pesquisadores mediram o funcionamento psicológico dos participantes no início, no meio e no final das quatro semanas.

Mais saúde mental, bem-estar e atenção 

No geral, eles descobriram que bloquear a internet móvel por duas semanas levou a melhorias notáveis na saúde mental, no bem-estar subjetivo e na capacidade de atenção sustentada:

  • 91% dos participantes melhoraram em pelo menos um dos três aspectos avaliados.
  • 71% dos participantes relataram uma melhora na saúde mental após a pausa na internet. O grau médio de redução dos sintomas de depressão foi maior do que o relatado em múltiplos estudos sobre medicamentos antidepressivos.
  • A capacidade de atenção melhorou em um nível equivalente a reverter 10 anos de declínio cognitivo relacionado à idade.
  • Os benefícios de bloquear a internet móvel parecem aumentar com o tempo. Os dados coletados mostraram que os participantes se sentiram progressivamente melhores a cada dia durante o período da intervenção.

Coisa melhor para fazer

Ward explica que esses efeitos positivos no funcionamento psicológico podem ser atribuídos a mudanças na rotina diária dos participantes ao bloquear a internet móvel. Em vez de assistir mais TV ou filmes, eles "passaram mais tempo no mundo offline – praticando hobbies, conversando cara a cara ou saindo para ter contato com a natureza. Eles dormiram mais, se sentiram mais conectados socialmente e mais no controle de suas próprias decisões".

Para os profissionais de marketing, os resultados sugerem uma grande demanda entre os consumidores por tecnologias que reduzam estímulos e ajudem a diminuir o tempo online. Por exemplo, uma empresa pode adotar um modelo de negócios baseado em assinatura para evitar bombardear os usuários com anúncios chamativos que exigem um clique.

Empregadores também podem oferecer aplicativos que ajudem os funcionários a serem mais felizes e produtivos ao reduzir o consumo de internet móvel, sugere Ward.

No entanto, ele recomenda que os trabalhadores tenham a opção de aderir voluntariamente. No estudo, apenas 57% dos participantes realmente instalaram o aplicativo, e apenas um quarto conseguiu ficar duas semanas inteiras offline.

"Talvez você coloque isso em votação, e as pessoas escolham essa opção", diz Ward. "O fato de que 80% das pessoas acham que usam seus celulares demais sugere que talvez elas aceitem essa ideia."