Você já ouviu falar em transtorno explosivo intermitente (TEI)? Ele é definido como a falta de capacidade para controlar impulsos agressivos, com episódios repetidos e breves, ou “explosões”, de raiva ou violência desproporcionais à situação. Algumas pessoas usam o termo "síndrome de Hulk" para descrever o transtorno, em alusão ao personagem da Marvel que se transforma completamente nos momentos de fúria.
Para ser caracterizado como TEI, é preciso que os sintomas não sejam melhor explicados por outro transtorno mental, comportamental ou do desenvolvimento. Além disso, é preciso que os sintomas sejam suficientemente graves para resultar em prejuízos nas áreas pessoal, familiar, social ou profissional.
O TEI é considerado um transtorno do impulso, assim como o transtorno opositor-desafiador, a piromania ou a cleptomania.
De acordo com um estudo recente, o TEI pode estar relacionado com diversas comorbidades, ou seja, transtornos e doenças que ocorrem em paralelo e estão associadas entre si. Isso é comum com outros transtornos mentais, mas deve ser sempre ressaltado – tratar corretamente uma determinada condição pode evitar o desenvolvimento de outras.
Pesquisadores norte-americanos fizeram uma análise de 117,7 milhões de registros de saúde, que incluíram 30 mil indivíduos diagnosticados com TEI. Dessas pessoas, 95,7% apresentaram pelo menos outro diagnóstico psiquiátrico. Os resultados foram publicados no periódico Jama Psychiatry.
Os principais diagnósticos psiquiátricos associados ao transtorno explosivo intermitente (TEI), segundo o estudo, foram:
Já as principais doenças associadas ao TEI foram:
A prevalência de transtornos de humor encontrada na amostra foi de 60,3%; de transtornos de ansiedade, 59%; e de transtornos do desenvolvimento, 44,5%. Mais de um terço dos pacientes com TEI também apresentava transtornos neuróticos, de personalidade ou outros transtornos não psicóticos, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) ou transtornos por uso de substâncias.
Os pesquisadores destacaram que a prevalência de TEI encontrada no estudo, de 0,03, foi muito baixa, em comparação com estudos comunitários, que apontam uma prevalência em torno de 2,5% a 3%.
Isso se deve provavelmente ao fato de os médicos raramente avaliarem a agressividade e usarem o diagnóstico de TEI. Além disso, é raro pessoas com problemas de agressividade buscarem avaliação e tratamento.
Em geral, o diagnóstico de TEI ocorre mais tarde na vida, embora os sintomas comecem a aparecer já na pré-adolescência, segundo os pesquisadores. Entre os indivíduos da amostra, 70% eram homens.
Outra observação relevante é que o transtorno sem comorbidade psiquiátrica, ou o chamado TEI puro, foi raro: apenas 4,3% dos indivíduos com TEI não tinham outro diagnóstico.
Os autores sugerem que os médicos deveriam considerar usar o diagnóstico de TEI com mais frequência quando apropriado.
"Destacar a agressividade como um diagnóstico separado pode focar mais atenção no comportamento agressivo e facilitar o desenvolvimento de tratamentos direcionados", eles escreveram no artigo. "Caso contrário, o comportamento agressivo permanece, em certa medida, oculto como uma característica dentro de outros transtornos."
A associação do TEI com quedas ou acidentes, também relatada no estudo, ainda sugere que a impulsividade pode levar esses indivíduos a buscarem atenção médica.
Em resumo, levar o transtorno em consideração mais cedo ajudaria as pessoas que convivem com ele a evitar outros problemas de saúde física e mental. O tratamento do TEI pode incluir o ensino de habilidades que ajudem a pessoa a pensar antes de agir, e não apenas focar na agressividade.
Fontes: MedPageToday, CID-11
Tatiana Pronin
Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY. Twitter: @tatianapronin